Originally published in Folha de São Paulo, October 7, 2000, p. A18 <http://www.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u510.shtml>.
07/10/2000 - 14h48
Artista plástico e cientistas disputam posse de coelha transgênica
CHRISTIANE GALUS
do Le Monde
Eduardo Kac, artista plástico brasileiro e professor de arte e tecnologia em Chicago, batizou de Alba a coelha transgênica que tem uma propriedade peculiar: seus olhos rosados e seus pêlos brancos ficam fluorescentes quando expostos à luz ultravioleta.
O auto-intitulado "artista transgênico" apresentou o animal geneticamente alterado em Avignon (França). Em seu site na Internet (www.ekac.org), Kac explica que pretende criar "seres vivos únicos" com finalidade artística.
Quem não está gostando disso são as associações de defesa dos animais e os cientistas, principalmente os do Inra (Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica, da França), que desenvolveram e lhe emprestaram Alba.
O animal, concebido para fins científicos, foi confiado a Kac para ilustrar um debate sobre as relações entre ciência e arte. Mas, segundo o Inra, não há possibilidade de o animal ficar com o artista, devido à regulamentação francesa sobre os animais transgênicos. Kac pretendia criá-lo.
Proteína de medusa
"Não quero mais ouvir essa história de coelho verde", esbraveja Louis-Marie Houdebine, pesquisador do Inra e um dos criadores de Alba. "Esse animal não é fantasia de cientista louco. Ele é descendente de animais transgênicos primários. Nós temos atualmente sete ou oito animais desse tipo, que são usados em estudos de desenvolvimento embrionário."
Para lhes conferir suas características particulares, os pesquisadores introduziram no genoma dos coelhos um gene com o código da proteína GFP (proteína verde fluorescente, na sigla em inglês), presente naturalmente em medusas. A GFP emite luz quando ativada por íons de cálcio. "O gene foi modificado para uso em coelhos e funciona em todas as suas células", diz Houdebine. Quando o gene é introduzido no organismo, produz a GFP, que pode ser detectada sob luz ultravioleta. A proteína luminescente permite compreender o funcionamento de alguns genes e a maneira como eles são expressos. Coloca-se a sequência de DNA da GFP após o promotor do gene que se quer estudar. O remendo genético é introduzido no organismo e, para seguir o funcionamento do gene, basta observar as células fluorescentes.
Bioluminescência
Seja para se comunicar, para se camuflar ou para escapar de um predador, vários organismos emitem sinais luminosos. Há alguns terrestres, mas é nas profundezas dos mares que dois terços das espécies são luminescentes, azuis ou verdes.
"É o caso de bactérias, peixes, camarões, lulas e plâncton (microrganismos) vegetal", diz Patrick Geistdoerfer, biólogo do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) e do Museu de História Natural da França. Sua equipe estuda as flutuações no fenômeno da bioluminescência conforme a profundidade, a época e a região.
Militares norte-americanos tentam utilizar o fenômeno para criar novos métodos de localização de submarinos.
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