Originalmente publicado em Jornal do Brasil, Setembro 26, 2001.
http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernos/internet/2001/09/26/jorinf20010926012.html
Com o advento do computador e, em particular, da internet como suporte
eletrônico, a concepção, linguagem, apresentação e percepção da arte não
são mais as mesmas. Isso está acontecendo porque estamos vivendo uma
revolução estética possibilitada por um aglomerado de meios de expressão: a
internet, o vídeo, o CD-ROM, a realidade virtual, entre outros.
A utilização dessas ferramentas possibilitou o nascimento da arte eletrônica,
uma nova forma de comunicação entre homem-máquina. Fusão da arte com a
tecnologia, a arte eletrônica pode ser vista em espaços físicos concretos na
forma de exposições, performances e podem ser vistas também virtualmente,
na forma de sistemas interativos, internet, infografia, multimídia e realidade
virtual.
Vale tudo. Não importa a forma como é produzida, e sim, se ela cumpre o
dever da arte, definido pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche como o de
''antes de tudo, em primeiro lugar, embelezar a vida''. Dentro desta
perspectiva, a arte eletrônica abriu novas possibilidades tanto para o artista
quanto para os espectadores. Estes últimos deixaram de ser meros
observadores passivos para interagir com as obras, participar do processo
criativo e dar vida aos trabalhos. O interessante é que agora esta de
interatividade experiência - que antes era limitada ao espaço dos museus e
das galerias - pode ser compartilhada por milhões de pessoas
simultaneamente por meio da internet.
Mas, como será que acontece essa tal de arte eletrônica na prática? Existem
categorias diferentes de expressão dessa arte como é o caso da Web Art, a
Videoarte, o CD-ROM, Arte Transgênica, produções artísticas que mesclam
Vídeo e Música, trabalhos em Realidade Virtual, Infografia, Performances e
Exposições. Dentre os estilos de arte eletrônica podemos destacar pelo menos
três muito interessantes pelas suas particularidades: Web Art, Arte
Transgênica e Videoarte.
Na Web Art, as criações oferecem ao espectador algum tipo de interatividade
e é preciso o uso de um navegador (Opera, Internet Explorer, Netscape ou
algum outro) para que a obra seja visualizada. No site da 24a Bienal de São
Paulo, realizada em 1998, por exemplo, as pessoas puderam ver a reprodução
do quadro A Negra, de Tarsila do Amaral, com um ''bigode animado'',
interferência que caracteriza este estilo.
A Arte Transgênica, apesar do nome estranho, é outra forma de expressão da
arte eletrônica, caracterizada pela fusão da arte, tecnologia e biologia. As
criações são geralmente acessadas a partir de uma página na internet e difere
das obras convencionais por não terminarem em si. Sua existência depende da
interferência de um observador que pode modificá-la de acordo com sua
vontade. Um exemplo concreto disso é o Cachorro Transgênico
www.ekac.org/transgenic.html, criado pelo artista brasileiro Eduardo Kac, um
dos principais ícones da arte eletrônica. O projeto, que existe apenas na
internet, consiste na criação de um cachorro que emite luz fluorescente
quando exposto à luz ultravioleta. Isto seria possível por meio de um enxerto
no cão com um gene extraído de um tipo de medusa existente no Oceano
Pacífico.
Apesar de não ser tão mirabolante como a Arte Transgênica, uma das
expressões artísticas mais utilizadas atualmente são as interferências em
vídeo, estilo chamado de Videoarte, e muito bem representado pelo artista
americano Gary Hill, mestre na fusão da arte com a tecnologia. Hill criou nos
anos 70 esculturas de som e explorou ao máximo as possibilidades deste meio
com suas interferências. Um de seus trabalhos, intitulado Remarks on color,
mostrava 24 vídeos em um único canal.
E a arte eletrônica não pára por aí. Existem hoje no mundo, e principalmente
no Brasil, diversas produções audiovisuais que utilizam outros meios de
expressão, a exemplo do CD-ROM e da realidade virtual. Há também situações
em que ocorre uma mistura de meios, como é o caso das performances
híbridas que mesclam os elementos vídeo e música.
Para aqueles que desejam se aprofundar no assunto, uma boa pedida é
visitar os trabalhos apresentados no VideoBrasil - Festival de Arte Eletrônica
Internacional, no Sesc Pompéia, em São Paulo. O evento, que chegou a 13a
edição este ano, teve 135 trabalhos audiovisuais de 15 países inscritos entre
as categorias web art, CD-ROM e vídeo. Com o tema Fluxos, Fusões e
Assimilações, a mostra fica aberta a visitação pública até o dia 21 de outubro.
Bastidores da arte eletrônica
Dentre os artistas que deram contribuições para a arte eletrônica podemos
destacar alguns que devem ser sempre lembrados pela criatividade e
superação dos limites entre a arte e a tecnologia. São eles:
Eduardo Kac - Artista brasileiro nascido no Rio de Janeiro, Kac inventou, em
1983, a holopoesia, uma nova linguagem poética e, em 1986, criou a arte da
telepresença, quando apresentou na mostra Brasil High Tech um robô de
controle remoto por meio do qual participantes interagiam. Kac atualmente é
professor de arte eletrônica na The School of the Art Institute of Chicago.
{www.ekac.org}
Gary Hill - Referência histórica para a videoarte, o artista americano Gary Hill é
mestre na fusão da arte com a tecnologia, tendo explorado ao máximo as
possibilidades do vídeo. Hill é autor de instalações consagradas como
Remembering Paralinguay, Wall Piece e Remarks on Color. Seus
trabalhos podem ser encontrados em www.stationhill.org/artists/GHpage.html
e www.artreview.com/art/garyhill/hill.html
Roman Verostko - Um dos pioneiros da arte eletrônica, Verostko acredita que
ela se caracteriza por qualquer trabalho artístico que seja criado com
ferramentas eletrônicas. Veja em www.verostko.com/
Roy Ascott - Ícone da arte eletrônica, Ascott é fundador do Centro de
Pesquisa Avançada em Artes Interativas da Universidade do País de Gales, em
Newport, Reino Unido. Ele foi o autor dos primeiros projetos artísticos de
telemática do mundo e hoje cria obras interativas na internet. Confira em
www.olats.org/colloque/participants/ascott/index.shtml
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